Tardiamente reconhecida pela cultura ocidental, a arte primitiva despertou o interesse de antropólogos e historiadores por suas semelhanças com a arte pré-histórica. Trata-se de um conjunto de formas artísticas de enorme originalidade, com cores vivas e freqüente estilização. Seus melhores exemplos são encontrados nas máscaras e na pintura corporal.
Arte primitiva é a produção artística própria dos povos que se mantiveram numa forma primária de civilização, praticando uma economia de subsistência e sujeitos a uma série de superstições, tabus e crenças ancestrais. Geograficamente, essas comunidades situam-se numa ampla faixa que vai da região andina ao sul dos Estados Unidos, do Japão à Anatólia e ao norte da África. Fora desse vasto conjunto geográfico e cultural, estão ainda os indonésios, polinésios, melanésios, africanos, lapões, siberianos, esquimós, os peles-vermelhas e os índios de várias regiões brasileiras.
Para explicar o "atraso" desses grupos humanos em relação aos que ultrapassaram, há séculos, o estágio em que se encontram atualmente, são apontados alguns fatores, como o isolamento geográfico, as condições climáticas adversas ou a carência de recursos naturais na região em que vivem. A explicação do isolamento aplica-se com alguma propriedade aos casos dos bosquímanos (extremo da África do Sul), das tribos da Terra do Fogo (extremo da América do Sul) e dos australianos, todos esses grupos enclausurados em seus continentes. Mesmo quanto a esses, porém, não é lícito falar de um isolamento absoluto. Quanto aos demais, estão diretamente ligados aos grandes eixos de desenvolvimento das civilizações ou sofreram sua influência, constante ou intermitente. A rigor, não é correto afirmar que a arte desses grupos seja realmente "primitiva".
A atração que a arte primitiva exerceu sobre alguns artistas europeus (a arte polinésia sobre Gauguin e a africana sobre Picasso e os expressionistas alemães), por sua ausência de realismo e por seu alto valor conceitual e simbólico, fez com que suas formas, até então quase ignoradas pela cultura européia, começassem a ser conhecidas fora de seu âmbito geográfico. Além disso, as grandes exposições universais organizadas a partir do século XIX também contribuíram para o êxito dessa arte aparentada com a de tempos já passados.
O estudo da arte primitiva e a observação do comportamento dessas comunidades abriram novas perspectivas à compreensão do fenômeno artístico, tanto em suas manifestações contemporâneas quanto na antiguidade e na pré-história. A crescente soma de dados e observações, na segunda metade do século XX, veio comprovar o relacionamento profundo, nessas comunidades, entre a criação artística e os ritos religiosos. Essa relação se observa tanto nas manifestações mais rudimentares (como a pintura do corpo com argila em regiões da África e da Austrália), quanto nas complexas expressões da sociedade das máscaras (Sudão), quando o homem, ao dançar, dança o sistema do mundo.
Ao descobrir a arte desses povos, o homem moderno descobriu também que sua concepção do fenômeno artístico era insuficiente para compreendê-la. Valores como a invenção formal, a riqueza das cores, das texturas e dos materiais, a estilização vigorosa e a transfiguração do mundo concreto, presentes nas esculturas iorubas, nos malanggans da Nova Irlanda ou nas máscaras policrômicas do Sepik, na Nova Guiné, são apenas o aspecto aparente - o que se mostra - de um pensamento e uma ação coletiva que organizam a realidade.
A arte não é aqui mero capricho da sensibilidade. Se na estatuária da Oceania a cabeça da figura apresenta um tamanho desproporcional, isso acontece porque, para as tribos dessa região, a cabeça é a sede da personalidade e, por isso, objeto de especial interesse: preservam cuidadosamente a cabeça dos parentes e caçam a cabeça dos inimigos. Mas já a cabeça pintada ou tatuada (maori) se transforma em máscara.
O exemplo mais característico da arte primitiva é a máscara, feita de madeira ou palha, moldada em barro ou esculpida em enormes troncos de árvores. Conquanto seja uma das mais ricas formas de arte dos povos ditos primitivos, a máscara é apenas um elemento dentro do sistema da comunidade. Com a mímica, a dança, os sons do tambor, a voz humana, as vestes, os bastões esculpidos, insere-se numa totalidade vital que é, ao mesmo tempo, uma síntese das artes. O objeto de arte existe, aí, como instrumento de ação religiosa da comunidade, plenamente integrado nela. O ritual, que a arte torna possível, estabelece o diálogo com as forças do bem que governam o mundo, e assegura a generosidade dos deuses. O artista tem, assim, um papel fundamental na vida comunitária.
Também é característica a decoração do corpo humano com tatuagens ou cicatrizes, como é hábito entre alguns aborígines australianos, os polinésios de Samoa e os maoris da Nova Zelândia. Em certas tribos da Nova Guiné é de uso pintar o corpo com cores vivas. Essa ornamentação pessoal se completa com colares, braceletes, adereços de cabeça etc., feitos com diferentes materiais, como conchas, penas ou sementes. Os motivos decorativos são quase sempre lineares, de grande simplicidade e conteúdo simbólico.
Arte e utilidade - Além dos objetos de culto - máscaras, esculturas totêmicas, imagens que representam o espírito dos mortos etc. -, a arte dos povos primitivos compreende também a produção de objetos utilitários como vasos, remos, armas, barcos e casas, nos quais se observam as mesmas qualidades plásticas, a mesma riqueza cromática ou ornamental.
Constata-se, no entanto, que as criações artísticas não ligadas ao cotidiano prático têm sobre a comunidade uma força emotiva maior: a máscara emociona mais que o remo. Mas isso não se deve a que o primitivo distinga a máscara como "arte" e o remo como simples produto artesanal. A emoção maior que nele suscita a máscara decorre da significação religiosa, cosmogônica ou metafísica, de que está impregnada.
Austrália - Os aborígines australianos, povoadores da maior ilha da Oceania, encontram-se divididos em várias áreas culturais, com traços artísticos particulares. A arte tjurunga, manifestada por incisões gravadas em pedras ou em cascas de árvores, com representações de figuras esquemáticas de animais ou seres humanos, é característica de uma grande região que tem como centro o território de Aranda. No centro da Austrália predominam a decoração corporal e complicados enfeites plumários de cabeça, que combinam plumas e cores ocres. No oeste da Terra de Arnhem, norte da Austrália, encontram-se objetos de marfim e talhas estilizadas com representações zoomórficas.
Melanésia - Povoadores de um conjunto de ilhas situadas no noroeste da Austrália, os melanésios se caracterizam por uma estatuária de marcadas formas bidimensionais. De uma maneira geral, distinguem-se três grupos artísticos: um, muito decorativo, se estende pelas ilhas Salomão; outro, localizado no golfo de Papua e no vale do rio Purari, Nova Guiné, caracteriza-se pela criação de máscaras fantásticas; e um terceiro, próprio dos territórios com presença holandesa, é representado pelos tótemes dos chambulie pelas esculturas naturalistas dos mundkumor.
As construções dos melanésios são muito variadas. Enquanto as casas da Nova Caledônia e da Nova Irlanda têm forma circular, as das ilhas do Almirantado são ovaladas. Também há construções maiores, destinadas a reuniões ou cerimônias religiosas.
Polinésia - O grande número de ilhas que constitui a Polinésia determina a variedade das expressões artísticas encontradas no Pacífico meridional, a oeste da América do Sul. Nas ilhas de Taiti e Austrais, os artistas esculpem pedras não superiores a um metro e pequenas talhas de madeira, denominadas ti'i, com as quais representam seus mortos e seus principais deuses.
No arquipélago do Havaí surgiu no século XII uma estatuária de grandes proporções, em madeira. Sua figura mais característica, enfeitada com vistosas penas, representa o deus da guerra, Kakailimoku. Os polinésios havaianos destacaram-se também na arte da cerâmica.
A ilha de Páscoa é famosa por suas gigantescas esculturas talhadas em pedra vulcânica, que chegam a alcançar 15m de altura. São bustos com forma humana, incrustados no solo e com uma leve inclinação, todos eles bastante assemelhados: têm cabeça enorme e alongada, nariz proeminente, olhos afundados e braços pequenos, apenas marcados em baixo-relevo. Muito se especulou sobre a função dessas colossais esculturas e sobre a maneira como teriam sido transportadas para pontos litorâneos. Os traços estéticos que se repetem constantemente nas obras em pedra da ilha de Páscoa contrastam extraordinariamente com a delicadeza das talhas em madeira, as noai havakava (estátuas de muitos lados).
Micronésia - As ilhas da Micronésia, situadas entre a Polinésia e a Melanésia, não se caracterizaram por formas artísticas peculiares, dada a excessiva influência da arte polinésia. As obras que mais se destacam são as esculturas das ilhas Carolinas, com rostos de aspecto triangular.
Maoris - Os aborígines da Nova Zelândia criaram uma arte extremamente decorativa e simbólica, como se pode ver na pintura de canoas e remos, com ricas composições lineares, e nas vigas e pilares de suas casas retangulares. Por sua beleza, os motivos artísticos maoris, de grande complexidade, foram absorvidos pela maioria da população branca da Nova Zelândia, para decoração doméstica.
Esquimós - Os habitantes das regiões árticas da América do Norte e de parte da Groenlândia desenvolveram uma arte muito particular, condizente com a escassez de recursos e com o meio excessivamente inóspito. A arte desse povo tem um caráter profundamente sagrado, e explica a relação do homem esquimó com seu mundo. Seus materiais são marfim e ossos de focas, com os quais são feitos instrumentos para caça e pesca, como arpões e facas, assim como entalhes de pequeno tamanho, com figuras de animais ou seres humanos. Os motivos decorativos são simples e simbólicos, aplicados por meio de incisões. São típicas as máscaras rituais, ou inuas, de madeira policromada.
Distinguem-se, entre os esquimós, três regiões artísticas: uma a leste do rio Mackenzie, nas margens do Hudson e nos territórios de Baffin e da Groenlândia, caracterizada por objetos de marfim com incisões lineares mais ou menos angulosas, de caráter religioso; outra nas ilhas Aleutas, com máscaras de traços grotescos, destinadas a cerimônias rituais; e a terceira no Alasca, onde são feitas máscaras para os chamados "ritos de convite", cerimônias nas quais se solicita a proteção e a ajuda das divindades, antes de sair para caçar ou pescar. Tais máscaras eram enfeitadas com formas complexas e móveis, e com penas de cores diversas.
Índios da América do Norte - Os peles-vermelhas se destacaram por talhas em madeira e por tótemes, postos em lugares de destaque de seus povoados e decorados com cores extremamente vivas. Cada tribo tinha um animal protetor, que passava a ser seu emblema e ao qual eram rendidos cultos. Os peles-vermelhas também pintavam o corpo, suas embarcações e suas casas (de formato cônico e feitas de peles) com motivos lineares de grande colorido e simplicidade.
África - A arte primitiva africana é representada por um sem-número de entalhes de figuras humanas em madeira, com extremidades curtas. Diferenciam-se três estilos: o sudanês (do Sudão e da Nigéria), com motivos geométricos predominantes; o banto (do Camarão, do Gabão e de Angola), mais realista que o anterior; e o bosquímano (da África do Sul), com representações pictóricas de cenas de caça e de pastoreio, assemelhadas às pinturas rupestres saarianas e às levantinas de época pré-histórica.
Resumo
O homem pré-histórico era capaz de se expressar artisticamente através dos desenhos que fazia nas paredes de suas cavernas. Suas pinturas mostravam os animais e pessoas do período em que vivia, além de cenas de seu cotidiano. Expressava-se também através de suas esculturas em madeira, osso e pedra. O estudo desta forma de expressão contribui com os conhecimentos que os cientistas têm a respeito do dia a dia dos povos antigos.
Arte rupestre é o nome da mais antiga representação artística da história do homem. As mais antigas descobertas dessa arte são datadas no período Paleolítico Superior (40.000 a.C.); Eram pinturas e desenhos gravados em paredes e tetos das cavernas. Isso mostra que o homem pré-histórico já sentia a necessidade de expressão através das artes.
As pinturas feitas nas cavernas eram de grandes animais selvagens, na tentativa de tentar reproduzir as caçadas da forma mais real possível. O homem pré-histórico usava ossos de animais, cerâmicas e pedras como pincéis, além de fabricar suas próprias tinturas através de folhas de árvores, sangue de animais e excrementos humanos.
Perfeito!!! de 3 possíveis ficou com 2,5. Parabéns!!! O texto está formatado e com respiro. Brilhante!!! Mantenha esse nível!!!
ResponderExcluirADOREI MUITO BOM MUITO RAEALISTA MESMO HOJE EU TO FAZENDO UM TRABALHO DE CASA DA ESCOLA E VOU COPIA ESSE TEXTO E AGORA EU TENHO CERTEZA QUE VOU LEVAR NOTA 10 PARABÉNS MESMO PELO ESSE TEXTO VALEU!!!!
ResponderExcluirTexto muito bom e de leitura fluente.
ResponderExcluirO design do blog é agradável, sem exageros e com imagens interessantes que completam o texto.
Parabéns!